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Mais Abraços // Quinta-feira 15 Setembro, 2022 // #conversas, #infância
A curiosidade infantil encanta na mesma medida em que espanta. Quem nunca foi questionado por uma criança inocente sobre algum tema delicado, as famosas “perguntas cabeludas”, e não soube como responder? Quando se é mãe ou pai, esse tipo de situação constrangedora costuma ser ainda mais comum.
Como fazer, então, para conversar com crianças sobre temas difíceis? Segundo a experiência clínica de Beatriz Bandeira, psicóloga clínica com formações em Gestalt-terapia e psicologia perinatal e responsável pela página @desaguarpsicologia, o tema considerado maior tabu é o sexo — justamente por isso, é também o que mais surge nos casos de pais e mães que buscam consulta psicológica para lidar com os filhos.
“E isso se dá em todas as idades, da infância à adolescência. Os pais e as mães têm muita dificuldade de adentrar nesse campo, ainda que seja para informar ou prevenir abusos ou falar sobre as próprias intimidades, a privacidade do corpo, tudo o que diz respeito a esse tema”, conta Beatriz. “É importante que a gente tenha abertura para conversar com os filhos sempre, sobre tudo, porque deixar de falar não vai impedir que eles descubram e conheçam as coisas na experiência deles.”
É claro que há contextos familiares diferentes: enquanto uns podem ter extrema dificuldade com determinados temas, outros podem falar sobre qualquer coisa abertamente. Mas qualquer que seja a dinâmica familiar, o diálogo aberto, honesto e sincero deve ser sempre prezado. “Uma dica que eu gosto de dar aos pais é perguntar para os filhos: o que você sabe sobre isso? Assim, antes de a gente responder, teremos uma noção do que ela já sabe. E a partir disso, a gente vai construindo em uma linguagem acessível que a criança vai conseguir compreender”, diz a psicóloga.
Ainda sobre linguagem acessível, o importante não é só como falar com os filhos para que entendam, mas também o que falar com os filhos, com um conteúdo que seja suficiente e compatível para aquela idade, evitando omitir informações, mas revelando apenas o que ela irá conseguir conceber. Beatriz explica que “é importante adequar o discurso, de forma que a gente consiga aliviar um pouco a inquietação da criança sobre aquilo, mas também colocando alguns limites dentro dessa comunicação, porque muitas delas não vão conseguir entender toda a complexidade daqueles temas mais difíceis”.
E isso deve ser feito desde sempre. Se o tema for, por exemplo, sexualidade infantil, evidentemente explicações detalhadas se fazem desnecessárias caso a criança seja muito pequena. Mas incluir pequenos passos, como pedir licença ao trocá-la, já irá dar pequenas pílulas de aprendizado inconsciente, de forma que, quando ela estiver maior e pronta para falar mais profundamente sobre o assunto, não será pega de surpresa.
“Quando vamos passar um medicamento em seu corpo, devemos explicar para ela o que está acontecendo. ‘Olha filha, a mamãe vai pegar aqui porque a gente precisa tratar disso aqui’. Isso tudo vai ensinando a criança sobre consentimento, sobre como o corpo dela é um território sagrado, que pertence somente a ela”, exemplifica a psicóloga.
Se o tema difícil em questão for sobre um trauma que seu filho ou sua filha tenha vivenciado, como uma perda muito grande, as sugestões para se comunicar com crianças são as mesmas: lidar de formas honesta e sincera, sem omitir informações, mas trazendo somente o suficiente para a criança poder conceber seu próprio entendimento.
Porém, nesse caso, ainda valem outros recursos: entender que o tempo de superação não é igual para todos, que esse processo não é linear. “A superação de uma morte, um luto, na realidade, vai se dar conforme a reação dos pais, como eles vão oferecer esse suporte emocional, esse apoio, esse amparo, como aquela criança vai se sentir acolhida naquele sentimento, o que vai determinar o quão profundo vai ser aquele trauma”, pontua.
Não tentar silenciar a criança com o intuito de amenizar o desconforto do adulto deve ser regra. “Deixe a criança expressar o mundo e responder as perguntas, você pode colocar também suas próprias limitações ao dizer ‘filho, olha, isso aqui eu não sei te explicar, existem coisas da vida que fogem à nossa compreensão, mas estaremos aqui para te ajudar nesse processo’. É sempre importante deixar a criança dizer o que ela pensa e sente, e saber que não existe um tempo certo para que o tema difícil seja processado por ela”, reflete Beatriz.
Além disso, ferramentas lúdicas são bem-vindas, como filmes, músicas, livros e outras saídas. “Eu não vejo problemas quando a gente, por exemplo, estiver falando da morte de um cachorrinho, dizer que morreu, mas que virou um anjinho. Eu acho que o lúdico faz parte dessa idade, dizer que virou uma estrelinha, que vai para o céu dos cachorros ou qual for a crença da família, sem mentir e dizer que foi para um sítio, mas de uma forma que a criança consiga elaborar aquilo de uma maneira menos traumática, de uma maneira mais compatível com a visão de mundo dela”, conclui.
Temas complexos são parte do desenvolvimento de qualquer indivíduo e é papel dos tutores não os evitar, pois isso afetaria essa evolução. O caminho ideal é adequar suas respostas à idade da criança que a ou o questionou. Mantenha sempre o diálogo aberto e positivo em sua casa, para que seus filhos e suas filhas entendam que ali é um lugar seguro onde suas manifestações e dúvidas serão acolhidas.
* A especialista consultada sobre esta matéria foi ouvida como fonte jornalística, não se utilizando do espaço para a promoção de qualquer produto ou marca.
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