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Mais Abraços // Quarta-feira 20 Dezembro, 2023 // #angustia da separação, #filhos, #emocoes, #cuidados
A maternidade é uma jornada repleta de descobertas, momentos de ternura e desafios únicos. Entre esses desafios, a chamada angústia da separação se destaca como uma fase crucial no desenvolvimento emocional do bebê.
O termo, especificamente, não fala sobre as mães que voltam ao trabalho e não conseguem lidar com a saudade. Esse é também um problema, mas hoje vamos falar sobre a angústia da criança que, com poucos meses de idade, ainda não sabe que é um ser único, separado de sua mãe, e, ao se ver sem ela, demonstra desespero e chora.
Esta crise quase que existencial dos pequenos é comum — vale lembrar que mesmo nós, nessa idade, também sofremos com a ansiedade de separação. Mas por que ela ocorre? Quais as mudanças comportamentais esperadas? E que estratégias são necessárias para lidar com essa emoção intensa? É o que vamos descobrir juntos!
"Os seres humanos nascem para se conectar com outros humanos, do qual dependem de modo absoluto para sobreviver nas fases iniciais da vida", explica Álvaro Jorge Madeiro Leite, do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). "As relações precoces que vão se estabelecendo com seus cuidadores principais produzem um senso de confiança e segurança com esses cuidadores."
Segundo o pediatra, a angústia de separação caracteriza-se pelo desencadear de aflição diante do afastamento físico dessas pessoas fundamentais, que são figuras de apego. "É normal em crianças pequenas, faz parte do desenvolvimento humano", ele diz.
Esse processo, explica Leite, acontece tipicamente entre o sexto e o nono mês de vida, embora variações possam ocorrer. "É nesse período que a criança começa a perceber que a mãe pode se afastar e, por conseguinte, experimenta uma gama de emoções complexas associadas à separação", afirma o pediatra.
Segundo Leite, com o fim do primeiro ano de vida se aproximando, a criança demonstra preferência pelas pessoas mais próximas, distingue vozes familiares de estranhas, reage a pessoas não habituais e protesta na separação de seu cuidador. Isso tudo é normal: mesmo a angústia de ficar longe de seus cuidadores.
Nos primeiros anos de vida, os bebês estão começando a desenvolver fortes vínculos emocionais com seus cuidadores, geralmente os pais. Eles aprendem a reconhecer as figuras de apego e a sentir conforto e segurança na presença delas.
À medida que os bebês crescem, eles começam a desenvolver uma consciência de que podem estar separados de seus cuidadores. Isso pode levar a sentimentos de ansiedade quando percebem que estão longe da fonte de segurança.
Os bebês estão começando a entender o mundo ao seu redor, e a separação pode ser assustadora, pois introduz o desconhecido. Eles ainda não têm a capacidade de compreender completamente que seus cuidadores retornarão.
A ansiedade com a ausência temporária é um processo normal. Inclusive, a falta desse apego pode ser um sinal de alerta. "Nos casos em que a relação com as pessoas mais próximas em seu convívio é de estranhamento, evitação ou esquiva, estamos diante de sinais de alerta para relacionamentos afetivos inseguros", conta Leite.
A angústia da separação manifesta-se de diversas maneiras. Os bebês podem demonstrar ansiedade quando a mãe se afasta, chorando intensamente e resistindo à presença de estranhos. Mudanças no sono e apetite também são comuns. É crucial entender que essas reações são normais e parte integrante do desenvolvimento infantil.
Segundo Leite, em bebês, a ansiedade de separação é manifestada por estranhamento, choro, medo e recusa do apoio de terceiros toda vez que a criança está diante da perspectiva de afastamento de seus cuidadores de referência, sejam os pais, outros familiares, como as avós, ou até mesmo as babás.
O médico explica que crianças na faixa de idade na qual a ansiedade de separação é mais frequente costumam apresentar comportamentos de retraimento e mesmo de recusa a frequentar a creche nos primeiros dias ou entrar no consultório pediátrico pela primeira vez, por exemplo.
Mas este estranhamento é completamente normal. "Toda criança precisa experimentar as atribulações da vida familiar e comunitária; não há outro modo de desenvolver autonomia e capacidade de autorregulação emocional e cognitiva", diz o pediatra.
É importante que os pais saibam, explica Leite, que desde o nascimento as crianças possuem uma bagagem biológica e genética apropriada para garantir sua sobrevivência e que essa bagagem são seus comportamentos de apego. "Todas as crianças são biologicamente programadas para se apegar", ele completa.
A estratégia fundamental para lidar com a angústia de separação, segundo o especialista, é a consciência de que as crianças têm necessidades básicas essenciais que devem ser observadas e contempladas através da sensibilidade parental.
"A sensibilidade parental é a capacidade dos pais em reconhecer, interpretar e responder no tempo aceitável e de modo apropriado aos sinais e necessidades da criança", ele explica. "O resultado esperado dessa capacidade é gerar comportamentos da criança que revelam segurança e confiança nos cuidadores principais. Isso é denominado de apego seguro."
Segundo Leite, o apego seguro é fator de proteção para o desenvolvimento da criança. "Os pais precisam de comportamentos que reafirmem a disponibilidade com os filhos. Esse cuidar sensível disponibiliza para a criança uma versão coerente do mundo, que aparece no dia a dia da família de modo previsível e acolhedor", ele diz.
Quer dizer: para o pediatra, o mais importante na angústia de separação é ter "pais disponíveis e sensíveis, permitindo a criança sentir-se importante e amada". Assim, você pode ajudar o seu bebê a ser mais independente de forma natural.
A angústia da separação é uma fase temporária. "Costuma se iniciar em torno dos 6 a 8 meses de idade, e decresce a partir dos dois ou três anos de idade, com o aumento dos níveis de autonomia da criança", explica Leite. Quer dizer: a fase termina mais ou menos quando começa o terrible two, a chamada "adolescência do bebê".
À medida que desenvolvem habilidades sociais e linguísticas, os pequenos começam a compreender que a mãe sempre retorna, aliviando a ansiedade associada à separação. Segundo o pediatra, em algumas situações – que ainda são consideradas normais –, a angústia de separação pode se prolongar até os cinco anos.
Depois desta idade, explica Leite, existe uma condição clínica denominada Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS), que se caracteriza como uma reação anormal da criança frente a separação, real ou imaginária, de uma pessoa de sua proximidade, e que interfere significativamente nas atividades diárias e no desenvolvimento da criança.
Em conclusão, a angústia da separação é uma parte essencial do desenvolvimento infantil, marcando o início da compreensão da individualidade e da confiança. Entender essa fase, apoiar o bebê com carinho e paciência e manter a comunicação aberta são passos cruciais para criar uma base sólida para o desenvolvimento emocional saudável do seu filho.
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