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Mais Abraços // Quarta-feira 7 Outubro, 2020 // #parto, #emocoes, #amor
Dentro daquela sala de parto, a vida voltou ao normal por um instante. Eu segurava nos braços meu filho pela primeira vez e me esquecia de todo o resto.
Teve um tempo que achei que nunca seria mãe: aos 17 anos, operei de um cisto no ovário e ouvi que dificilmente teria filhos sem passar por um tratamento. Mas ali estava o Miguel e o mundo voltou a girar no compasso certo.
Do lado de fora não havia visitas, os avós não poderiam conhecê-lo na maternidade. Eu nunca pude ver quem eram as enfermeiras que me ensinaram a dar o primeiro banho no Miguel, que me disseram como amamentá-lo. Nem do médico que fez o parto, porque o conheci nos momentos finais da minha gravidez, quando perdi o contato com a obstetra que me acompanhou durante todo o pré-natal. Ela também entrou em isolamento social.
Esses rostos que me ajudaram a trazer o meu filho para esse mundo de ponta cabeça estavam cobertos por máscaras o tempo todo. Só pude olhá-los nos olhos e se encontrá-los na rua um dia não os reconhecerei.
Mas eles foram fundamentais no momento mais importante da minha vida e agradeço a esses profissionais por toda a dedicação.
Acho que a missão de aprendermos a ser pais de primeira viagem, sem nenhum parente mais experiente por perto, fez com que eu e meu marido nos conectássemos de imediato com o Miguel. Aprendemos a decifrar seus sinais de fome, de sono, de frio, de cólica. E assim voltamos para a casa.
Dentro desse apartamento, a vida também é bem mais acolhedora que lá fora. Estamos mais unidos, nos ajudando mais. Um grunhido basta para meu marido já saber o que ele tem e assumir a dianteira da situação. Só por isso foi possível dormir tranquila quando tive que voltar ao hospital por conta de uma inflamação dos pontos da cesárea. Deixei meu bebê recém-nascido em casa e foi doído, mas eu sabia que lá ele estava protegido, bem cuidado. Foram quatro dias sem vê-lo.
Eu sempre fui muito resiliente e entendi que há muitas coisas que não estão sob nosso controle. O mundo quase nunca é do jeito que a gente queria que ele fosse.
Mas vai passar.
Em breve, o Miguel vai poder ser ainda mais feliz do que já é. Vai conhecer a bisavó e os outros parentes que vivem no interior de Minas Gerais. Vai com a gente ao shopping ver o vai-e-vem dos desconhecidos, enquanto eu como uma batata-frita na Praça de Alimentação em um dia que não quis cozinhar. Porque a vida é simples e eu não preciso de muito mais desde que ele chegou.
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