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Mais Abraços // Terça-feira 2 Maio, 2023 // #gravidez, #aborto espontâneo
Para os casais que estão tentando engravidar, ou que estão nas primeiras semanas de gravidez, o aborto espontâneo certamente é um dos medos mais recorrentes. Faz sentido: a situação é delicada, sensível e ninguém quer passar por ela.
Então, antes de continuar, precisamos dizer que o aborto espontâneo é comum, mas essa experiência ruim muito provavemente não vai impedir que você tenha filhos.
Esse é um tema que ainda gera dúvidas. Afinal, o que é o aborto espontâneo? E quais são suas causas? Vamos responder essas e outras perguntas neste artigo.
Para começar, é importante entender a diferença entre aborto e aborto espontâneo. Por definição, aborto é qualquer interrupção da gravidez que ocorra antes da 20ª ou da 22ª semana – há um leve discrepância na literatura médica, mas as duas datas estão em torno do 5º mês.
Já o aborto espontâneo é aquele que acontece de manteira natural, sem que haja qualquer tipo de intervenção.
Como explica o médico Ricardo Porto Tedesco, membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), há dois tipos diferentes de aborto espontâneo:
Aborto precoce: é aquele que ocorre até a 12ª semana de gestação, ou seja, no primeiro trimestre;
Aborto tardio: ocorre entre a 12ª e 22ª semanas.
Tal diferenciação existe porque as causas de cada abortamento são diferentes.
"Geralmente, os abortamentos precoces, que ocorrem com mais frequência por volta 5ª ou 6ª semanas de gestação, são decorrentes de problemas genéticos do embrião", explica Tedesco. Não é um problema genético dos pais: é o embrião que não se desenvolveu bem geneticamente.
"A gente chama de má formação ovular. E a maioria dessas malformações são incompatíveis com a manutenção da gestação", diz o médico. Em alguns casos, o embrião não consegue chegar a se formar, gerando uma gravidez anembrionária.
A alteração mais comum é quando existem três ao invés de dois cromossomos no par de cromossomos 16, a chamada trissomia do cromossomo 16. Segundo Tedesco, 80% dos abortos espontâneos são decorrentes dessa trissomia.
O aborto precoce também pode ter relação com hormônios. "Algumas vezes você tem uma deficiente da produção de progesterona pelos ovários, por exemplo, e aí acaba não havendo uma sustentação hormonal da gestação até que a placenta se forme e produza a progesterona", explica o médico.
De acordo com o especialista, o abortamento tardio está mais relacionado a problemas imunológicos e a problemas anatômicos, como o formato do útero. "A gestação prossegue bem, o embrião está bem formado, mas alguma coisa no organismo da mulher não permite que a gestação se mantenha".
A incidência do aborto espontâneo ocasional é de cerca de 20%. "Isso é quando você já tem o diagnóstico de gravidez. Provavelmente a incidência seja maior, pois várias vezes a mulher tem aborto sem nem saber que estava grávida", explica Tedesco.
"Eu sempre falo para os casais que experimentam essa situação: agora que estão passando por isso, vocês vão ver que muitos casais amigos tiveram aborto espontâneo e vocês não ficaram sabendo", comenta o médico.
"E eles falam: 'Nossa doutor, é verdade, quanta gente veio falar eu também tive, eu também tive'.", completa o especialista.
O aborto espontâneo se manifesta com sangramentos e dor tipo cólica. "É assim que a mulher vai descobrir: ela tem menos de 22 semanas, começa a sangrar, começa a ter cólica", detalha o médico.
Geralmente, a cólica aumenta de forma progressiva, e o aborto termina com a expulsão do embrião.
Mas nem todos os casos são iguais. Existe o abortamento retido, que há sangramento e cólica, mas o embrião continua, sem vida, dentro do útero.
Também é possível que a mulher sofra um abortamento retido e nem apresente sangramento. "Ela vai fazer um ultrassom e descobre que o embrião não tem mais batimento cardíaco. É uma situação bastante delicada", conta Tedesco.
O principal risco para a mulher, embora seja pequeno, é de ter uma hemorragia. "No aborto espontâneo o risco de infecção é baixíssimo, o risco maior é de um sangramento excessivo", explica o ginecologista.
Quando a mulher tem um aborto espontâneo, muitas vezes não é preciso fazer nada. O útero começa a contrair e expulsa o embrião, a placenta e a bolsa. "Outras vezes você precisa de algum procedimento, seja porque a expulsão não acontece ou porque acontece parcialmente", afirma Tedesco.
Há dois procedimentos possíveis para terminar o aborto:
É preciso cuidado ao seguir com tais procedimentos. "É muito importante como se presta o atendimento para preservar o futuro reprodutivo dessa mulher", afirma Tedesco. "Se, por exemplo, uma curetagem não for feita adequadamente, ela pode, sim, ter problemas em uma gestação futura."
Infelizmente, não existe uma maneira de garantir que não vá acontecer um aborto espontâneo. "É da espécie humana", diz o ginecologista. "Mas se tiver embriões saudáveis, você tem menos chance de isso acontecer".
E ter embriões saudáveis, explica Tedesco, depende dos hábitos dos pais: se eles fumam ou não, se bebem álcool, se usam drogas ilegais ou mesmo medicamentos, como se alimentam. A idade também influencia. "O aborto aumenta muito com o avançar da idade, tanto do homem quanto da mulher", completa.
Em alguns casos, bem mais problemáticos, pode acontecer de uma mulher experimentar uma série de abortos espontâneo. Chamada de abortamento de repetição, habitual ou recorrente, essa condição é, felizmente, bem menos comum que o aborto ocasional.
Nesses casos, é preciso fazer uma investigação completa do casal para tentar identificar as causas e iniciar um tratamento.
"Mas é importante que se diga que em cerca de 50% dos abortamentos de repetição você não consegue identificar a causa", afirma Tedesco. "Não é que ela não exista, é que não temos, até o presente momento, exames que façam esse diagnóstico."
Como já vimos, o aborto espontâneo é algo comum e, em diversos casos, nem é preciso fazer qualquer procedimento após o episódio. Entretanto, sabemos que o trauma psicológico de toda a situação é, muitas vezes, pior que os sintomas físicos.
Tedesco diz que uma conversa do obstetra e buscar o acolhimento da família são boas saídas. "Quando os casais percebem que, assim como eles, muitas outras pessoas passaram por isso, suaviza a angústia deles", comenta.
Mas nem todos encaram a situação da mesma maneira. "Em casos mais severos, principalmente naqueles que o abortamento acontece repetidas vezes, aí sim, lógico, um apoio psicológico é essencial".
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