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Mais Abraços // Quarta-feira 30 Outubro, 2024 // #gravidez, #bem-estar, #bebê
Apesar dos avanços nas questões LGBTQIAPN+, certos temas ainda suscitam dúvidas e merecem mais atenção, como a paternidade trans, que ocorre quando homens transgênero se tornam pais. Hoje, no Brasil, muitas pessoas trans têm filhos e muitas outras desejam começar uma família. Por isso, entender essa realidade é o caminho para uma sociedade mais justa.
Aqui, vamos apresentar algumas das informações que aprofundamos na nossa Cartilha Cuidados e Preparos para a Transparentalidade.
A transexualidade ocorre quando a identidade de gênero de alguém não corresponde ao sexo designado no nascimento. No caso de homens trans, isso significa que, embora ele tenha sido recebido como menina, sua identidade é masculina. É importante notar que quando falamos de identidade de gênero, vamos falar de um espectro, pois existem muitas expressões para além do binário masculino e feminino.
Os pais trans são homens trans que se tornaram pais. Isso pode se dar por gestação ou adoção, como em todas as famílias. O diferente na paternidade trans é que o homem pode ser a pessoa gestante, pois muitos homens trans têm órgãos reprodutivos femininos intactos e, portanto, podem engravidar.
Assim, a gravidez em homens trans, embora menos comum, é uma realidade possível e válida, mesmo em casos em que há uso de testosterona: a interrupção temporária do hormônio permite que o ciclo menstrual retorne e abre a possibilidade de concepção.
A gestação para homens trans segue as mesmas etapas biológicas que qualquer gravidez. Após a concepção, o corpo passa pelas transformações típicas do período, com o desenvolvimento do feto e as mudanças hormonais necessárias para sustentar o bebê.
Homens grávidos também precisam realizar o acompanhamento pré-natal para garantir a saúde tanto do bebê quanto deles mesmos. Detalhes de como se preparar para a gestação estão na nossa Cartilha Cuidados e Preparos para a Transparentalidade.
As consultas e exames devem ser feitos por profissionais capacitados em cuidados inclusivos, e muitos são encaminhados por ambulatórios de gênero do SUS, que oferecem serviços específicos para a população LGBTQIAPN+.
Em São Paulo, por exemplo, a Rede Sampa Trans é um importante ponto de apoio, oferecendo orientação e encaminhamentos necessários para o pré-natal.
Apesar dos ambulatórios específicos, numa gestação saudável, o atendimento médico será idêntico ao recebido por uma mulher cisgênero. Uma diferença pontual que pode ocorrer é nas suplementações.
“Em alguns casos de gestação trans, a suplementação de ferro não é necessária”, explica a nutricionista Isis Gois, do Núcleo TransUnifesp da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista à Cartilha Huggies de Cuidados e Preparos para a Transparentalidade.
Isso ocorre porque a testosterona, usada por pessoas trans para promover características físicas masculinas, altera os índices de algumas substâncias no sangue. O efeito permanece mesmo com a interrupção temporária. “Nesses casos, a pessoa vai tomar ácido fólico, mas não vai precisar tomar o ferro”, completa Ísis
Leia mais: desvendando o início da parentalidade com o Podcast Mais Abraços
Ter um acompanhante de confiança durante as consultas e o parto garante apoio emocional e ajuda a assegurar que seus direitos sejam respeitados. Infelizmente, a transfobia ainda é um desafio enfrentado por pessoas trans, especialmente no acesso ao sistema de saúde, onde o preconceito e a falta de preparo de alguns profissionais podem criar barreiras ao cuidado adequado.
É fundamental que desvios sejam reportados à gerência do local e à secretaria de saúde do estado ou do município. O Disque 100 e as delegacias também recebem denúncias, já que a LGBTfobia, na qual a transfobia se encaixa, é um crime tipificado desde 2019.
Homens trans que têm as mamas preservadas podem amamentar se assim desejarem. Quer dizer, o aleitamento é viável apenas para quem não realizou a mastectomia masculinizadora, pois a cirurgia remove o tecido necessário para a produção de leite.
A etapa da amamentação envolve aspectos físicos, médicos e emocionais. Por isso, a família também pode optar por alternativas, como o uso de fórmulas ou a lactação induzida em um parceiro ou parceira, que é quando a pessoa não gestante assume o papel de amamentar e assim se envolve com os cuidados do recém-nascido.
Independentemente do método, o vínculo entre o pai e o bebê pode ser profundo e significativo. O contato pele a pele, o afeto e a presença constante nas interações diárias são fundamentais para nutrir e fortalecer esse vínculo, mesmo quando a amamentação não é escolhida ou possível.
A jornada da paternidade trans pode ser marcada por desafios emocionais e sociais. A disforia de gênero pode ocorrer durante a gravidez e a lactação, já que o corpo gestante e as mamas crescidas estão muito relacionados culturalmente ao feminino. A disforia é a angústia causada pelo desencontro entre identidade e corpo. Ela não é uma regra, mas pode ocorrer no percurso da paternidade trans.
Além disso, como todas as pessoas que gestam e vivem o puerpério, os pais trans merecem espaços de acolhida e atenção à saúde mental. Não apenas porque famílias trans estão mais expostas a enfrentar preconceito e falta de compreensão, mas porque a chegada de um bebê é um evento desestabilizador para qualquer família.
“É importante incentivar o acompanhamento emocional para qualquer pessoa, inclusive para mulheres cis”, afirma Ísis. “A gestação é um processo de sensibilidade e vulnerabilização, com mudanças hormonais e dificuldades que podem afetar a saúde emocional de qualquer pessoa, tanto pessoas trans quanto mulheres fora do espectro cis heteronormativo”. Para a pesquisadora, é preciso ampliar a conversa sobre saúde mental sem patologizar a população trans.
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Mas encontrar um espaço seguro pode ser difícil, já que os lugares de apoio à gravidez e à parentalidade estão focados, em maioria, nas mulheres cisgênero. Isso reforça a importância de uma rede de suporte composta por amigos, familiares e profissionais informados sobre a experiência trans.
Há cada vez mais recursos disponíveis para apoiar homens trans em suas jornadas parentais. Organizações LGBTQIAPN+ oferecem suporte comunitário, grupos de apoio e recursos educacionais para ajudar famílias trans a se conectarem com pessoas que compartilham experiências semelhantes.
A ONG Casa Chama, dedicada a promover qualidade de vida de pessoas trans em diferentes frentes, pode ser acionada por WhatsApp, além da sede em São Paulo. O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades além de atuar em prol dos direitos da população transmasculina brasileira, é uma fonte de informação atualizada e age no combate à discriminação.
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