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Mais Abraços // Segunda-feira 7 Agosto, 2023 // #gravidez
Embora seja uma situação delicada, o aborto espontâneo não inclui apenas os casos em que o embrião é expulso do corpo da mulher, também existe o aborto retido, quando o embrião ou feto morre, mas permanece no útero.
"A definição de abortamento é a interrupção da gestação com menos de 22 semanas, seja com o embrião saindo ou não", explica o médico ginecologista e obstetra Ricardo Porto Tedesco, membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Caso a eliminação não ocorra, serão necessárias algumas medidas terapêuticas de cuidado com a mulher. Veja a seguir.
Assim como os abortos espontâneos em geral, os abortos retidos são mais comuns no primeiro trimestre da gravidez, quando ocorrem os chamados abortos precoces, que são causados, principalmente, por problemas genéticos do embrião. O uso de tabaco, bebidas alcoólicas e drogas ilegais, e também a idade da mulher, aumentam a chance dessas alterações.
Mas o aborto retido também pode acontecer depois do primeiro trimestre, quando ocorrem os abortos tardios, cujas causas principais estão relacionadas com problemas imunológicos e anatômicos no organismo da mulher, como formato do útero, por exemplo.
Não há uma explicação clara do porquê de um aborto se apresentar como retido e não como completo, quando há uma expulsão total do feto e da placenta, ou incompleto, quando há alguma expulsão, mas não de todo o material – a situação mais frequente é a permanência da placenta ou de restos placentários.
O aborto retido pode ou não apresentar os sintomas clássicos de um aborto espontâneo. "A mulher pode ter sangramento, ter cólica, e o embrião continua dentro do útero – só que o embrião fica sem vida", explica Tedesco. Nem todo sangramento vaginal durante a gravidez é sinal de aborto, porém.
Em outros casos, não há nenhum sintoma. Algumas mulheres podem não perceber que estão sofrendo essa complicação até que façam uma ultrassonografia de rotina. "Ela vai fazer um ultrassom e descobre que o embrião não tem mais batimento cardíaco. É uma situação bastante delicada", conta o especialista.
Em casos de aborto retido antes da 12ª semana, e se a mulher não apresentar sintomas de infecção, é possível esperar mais algumas semanas para que o corpo faça a expulsão naturalmente. Caso isso não ocorra, existem três possibilidades de esvaziamento uterino disponíveis no primeiro trimestre, listadas pela norma técnica Atenção Humanizada ao Abortamento, do Ministério da Saúde:
O abortamento farmacológico
A aspiração manual intrauterina, ou AMIU;
A curetagem uterina.
Segundo o documento, a ordem de escolha para os diferentes métodos depende das condições de cada serviço de saúde e da preferência da mulher, além da necessária avaliação de risco – mas para abortos retidos depois da 12ª semana, os procedimentos devem ser feitos de forma imediata e o mais indicado é o abortamento farmacológico seguido, se necessário, por uma curetagem uterina.
Em alguns casos mais complexos e atípicos pode ser necessária a realização de uma microcirurgia ou microcesariana para o esvaziamento uterino.
O abortamento farmacológico é feito com a utilização de misoprostol, que é administrado por via vaginal durante dois dias. No caso de interrupção da gestação no primeiro trimestre, a mulher poderá optar entre permanecer internada ou esperar em casa – mas precisará voltar ao centro de saúde para a segunda dose pois, no Brasil, o uso do misoprostol só é permitido em ambiente hospitalar.
Depois de 72 horas, se não houver expulsão, é possível tentar uma segunda vez, ou utilizar método alternativo. Por conta da ação do misoprostol, o colo do útero já se encontrará favorável para uma aspiração ou curetagem.
Nos casos de interrupção no segundo trimestre da gestação, as mulheres deverão permanecer internadas até a conclusão do abortamento. Nesse caso, o tempo de espera entre as doses pode ser maior – de três a cinco dias – e é possível utilizar o medicamento em conjunto com a ocitocina, antes de outros procedimentos.
Entre os métodos físicos de conclusão do abortamento, a aspiração manual intrauterina, ou AMIU, é o mais recomendado tanto pelo Ministério da Saúde, quanto por órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), pois apresenta menos risco de perfuração uterina do que a curetagem.
O médico utiliza um instrumento chamado de cânula, que está disponível em alguns diâmetros variáveis, acoplado a uma seringa com vácuo. A aspiração leva em torno de 10 a 20 minutos, mas o procedimento completo pode levar até uma hora. A AMIU requer internação hospitalar e anestesia, e é feita em interrupções no primeiro trimestre. O custo é maior do que a curetagem, mas o método está disponível também pelo Sistema Único de Saúde.
A curetagem é realizada usando um instrumento de metal chamado cureta, que é inserido através da vagina e usado para raspar o revestimento uterino. O procedimento é feito com prévia dilatação do colo do útero e necessita internação hospitalar e anestesia.
Segundo a Febrasgo, essa ainda é a forma mais utilizada de tratamento, embora apresente riscos, como a permanência de material dentro da cavidade uterina, perfuração uterina e posterior endometrite. De todas as técnicas, é a que mais apresenta risco para gestações futuras, podendo haver até mudanças estruturais por conta da dilatação cervical.
O aborto retido pode ser uma complicação triste e difícil da gravidez – e, em alguns casos, o abalo psicológico pode ser a principal consequência deixada pela experiência. É importante buscar o acolhimento da família e deixar claro para a mulher que o aborto retido não vai impedi-la de ter filhos.
Assim como as outras formas de aborto espontâneo, o aborto retido não costuma prejudicar as gestações futuras da mulher – mas como, nesse caso, intervenções médicas são mais frequentes, é importante garantir que sejam feitas com máximo cuidado e segurança.
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