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Mais Abraços // Terça-feira 3 Dezembro, 2024 // #bebê, #gravidez, #saúde mental
Você já ouvir falar sobre “baby brain”? É um quadro que pode acontecer durante a gravidez e nos primeiros meses de vida do bebê, provocando alterações no cérebro das mulheres, como aumento de esquecimentos, confusão mental e dificuldade de concentração e, por isso, muitas delas se sentem desligadas e distraídas no dia a dia.
Para esclarecer detalhes desta mudança cerebral, consultamos o neuropediatra e médico do sono Tarcizio Brito, que explica estas mudanças na gestação, quais são as causas, tratamentos e hábitos que podem ajudar a diminuir os sintomas. Além disso, abordamos um recente estudo, publicado pela revista Nature Neuroscience, que pela primeira vez mapeou as alterações anatômicas do cérebro de uma gestante.
Baby brain, que pode ser traduzido como "cérebro de bebê", é a perda de memória e confusão mental que acomete algumas mulheres durante a gestação e nos primeiros meses após o nascimento do bebê.
“É um termo que não tem reconhecimento formal no universo médico. Portanto, se procurarmos em livros especializados na área, não encontraremos nada. Mas sabemos que algumas gestantes enfrentam confusão mental na gravidez e no puerpério. A maioria descreve que se sente desligada”, explica Tarcizio.
Esta confusão mental na gravidez é caracterizada, principalmente, por dificuldade na memória, lapsos e dificuldades de concentração. O médico conta que, mesmo não sendo reconhecidas, as causas do baby brain são as próprias mudanças hormonais durante a gravidez. “Os níveis de hormônios, como o estrogênio, progesterona e ocitocina, vão aumentando significativamente e isso pode causar um certo impacto funcional no cérebro”.
Outros fatores, segundo o médico, também colaboram para quadros de baby brain e seus efeitos na memória da gestante, como a privação de sono, a fadiga típica deste período, estresse, ansiedade, preocupações com a saúde do bebê e com o momento do parto.
Tarcizio explica que estas mudanças acontecem no córtex pré-frontal e no córtex temporal, que são associados a funções cognitivos superiores (que atuam no raciocínio, comportamento e aprendizagem).
“Há também alterações no hipocampo, área do cérebro responsável pela memória, além de mudanças em algumas estruturas relacionadas a circuitos de recompensa, chamadas de nucleus accumbens, (região do cérebro relacionada a recompensas, prazer, riscos e medos)”, diz o especialista.
Ele lembra que o estrogênio, a progesterona e a ocitocina, hormônios que a mulher produz na gravidez, também acabam influenciando no funcionamento do cérebro. “De todo modo, eles são importantes para aprimorar algumas funções no cérebro da mãe, melhorando até mesmo a conexão emocional com o bebê”, relata.
Recentemente, uma publicação inovadora da revista científica Nature Neuroscience fez observações relevantes sobre as alterações cerebrais e hormonais da mulher desde a pré-concepção até dois anos após dar à luz.
Para realizar a pesquisa e observar estas mudanças neurais, os cientistas estudaram uma mulher saudável de 38 anos, que foi submetida a 26 sessões de exames desde 3 semanas antes da concepção até 2 anos após o parto.
A participante foi submetida à fertilização in vitro para concretizar a gravidez, permitindo o mapeamento preciso da ovulação, concepção e semanas de gestação.
Ao longo das 40 semanas de gestação, de acordo com a publicação, o corpo materno passa por profundas adaptações fisiológicas para apoiar o desenvolvimento do feto, incluindo aumentos no volume plasmático, taxa metabólica, consumo de oxigênio e regulação imunológica.
Estas adaptações refletem em um aumento na produção hormonal que conduz a uma reorganização significativa do sistema nervoso central da gestante, sugerindo que a gravidez é um período altamente dinâmico para a remodelação neural.
A pesquisa mostra que mudanças perduraram até dois anos após o parto e impactaram regiões cerebrais ligadas à socialização e processamento emocional, tarefas intimamente ligadas ao cuidado com um filho. Além disso, os achados podem indicar novos caminhos para lidar com depressão pós-parto e diabetes gestacional e traz imagens inéditas das mudanças cerebrais gravídicas.
Um outro estudo, publicado pela Associação Brasileira de Antropologia, afirma que o cérebro materno sofre alterações durante a gravidez como modo de se preparar para o cuidado, desenvolvendo funções cognitivas, como o reconhecimento infantil e processamento emocional, e diminuindo os recursos energéticos disponíveis para memória e atenção.
Mesmo com essas mudanças consideradas “negativas” no cérebro das mulheres grávidas no pós-parto, existem benefícios no baby brain. É o que relata uma pesquisa feita pela revista JAMA com o nome de "É hora de mudar o rótulo do baby brain".
A publicação revela que, embora as queixas de confusão mental devam ser levadas a sério, é provável que estas alterações no cérebro da mãe contribuam para aumentar a aprendizagem de elementos relacionados ao bebê.
Para os pesquisadores, além das mudanças no corpo na gravidez, o cérebro também passa por uma grande reorganização, aprendendo a se adaptar a esta nova situação.
Resumindo, a mulher passa a entender as necessidades da maternidade e, consequentemente, está pronta para ser mãe. Esse conjunto das transformações físicas e psicológicas é chamado de matrescência.
Sabe-se que há relação direta entre as alterações cerebrais e quadros de depressão pós-parto. Durante a gravidez, o corpo aumenta a produção de hormônios como estrogênio e progesterona, mas, após o parto, esses níveis caem rápida e dramaticamente, o que pode levar à depressão.
De acordo com a Cleveland Clinic, a depressão afeta até 15% das mães no mundo todo. Mulheres com depressão pós-parto apresentam sintomas emocionais, como choro frequente, fadiga, culpa, ansiedade e podem ter problemas para cuidar do bebê.
Existem três tipos de depressão pós-parto, segundo a organização:
Tristeza pós-parto (baby blues): afeta entre 50% e 75% das mulheres após o parto. Os sintomas são crises frequentes e prolongadas de choro sem motivo aparente, tristeza e ansiedade. Geralmente, começa na primeira semana após o parto e, felizmente, desaparece dentro de duas semanas sem necessidade de tratamento;
Depressão pós-parto: quadro mais sério do que o baby blues e aumenta as chances em 30% caso a mulher já tenha tido depressão pós-parto. Há mudanças de humor, choro frequente, irritabilidade e fadiga, sentimento de culpa, ansiedade e incapacidade de cuidar do bebê ou de si mesma. Embora os sintomas possam durar meses, o tratamento com psicoterapia ou antidepressivos pode ser indicado;
Psicose pós-parto: é uma forma grave de depressão pós-parto e requer atenção médica de emergência. Os sintomas (agitação intensa, confusão, sentimentos de desesperança, vergonha, insônia, alucinações, hiperatividade e fala acelerada) podem aparecer logo após o parto durando alguns meses. O tratamento pode incluir hospitalização, psicoterapia e medicação.
Descubra outras possíveis causas e sintomas da depressão pós-parto para, caso aconteça, você não se sinta culpada ou envergonhada por sofrer algum desses sintomas. Quanto mais rápido os detectar, mais rápido terá acesso ao tratamento adequado e se recuperará.
Tarcizio conta que não existe um tratamento específico para baby brain, mas essas mudanças geralmente são reversíveis e tendem a ser temporárias: “O cérebro da mulher volta a funcionar normalmente, principalmente alguns meses após o parto. O lado bom é que estas mudanças relacionadas ao baby brain é que mantêm a conexão emocional da mãe com o bebê”.
O médico recomenda hábitos importantes que melhoram os sintomas, como cuidar do sono, ter uma rotina saudável (atividade física e alimentação adequada), exercitar a mente com leitura, experimentar montar um quebra-cabeça, jogos de lógica, atividades que são cognitivamente estimulantes, uma suplementação vitamínica indicada por seu médico e, claro, ter suporte emocional.
Agora, caso a gestante tenha sintomas mais agudos, é essencial procurar um médico, psicólogo ou terapeuta para fazer acompanhamento especializado. O médico também recomenda fazer terapias alternativas, como meditação e ioga, mas sempre com indicação e acompanhamento profissional.
Sem dúvida, sua gravidez é uma fase linda e inesquecível que vai marcar sua vida, mas podem existir momentos em que você não se sentirá muito bem, especialmente na frente do espelho. Veja como lidar com as mudanças no corpo na gravidez e enfrente esta fase com muito amor-próprio e acolhimento a si mesma.
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