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Mais Abraços // Sexta-feira 28 Abril, 2023 // #sindrome de couvade, #gravidez, #gravidez psicológica
É a mulher que está grávida, mas o homem também fica com enjoos ou desejos – sim, pode acontecer. Essa é a Síndrome de Couvade, como é chamada a condição quando o homem sente os sintomas da gravidez.
"Na realidade, não é uma síndrome no sentido de doença", explica a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline. "Ela não precisa de tratamento, nem medicamentoso e nem psicoterápico”, completa.
Mas nem por isso a condição deve ser negligenciada, seja como experiência pessoal do futuros pais ou como fenômeno sócio-cultural.
O termo "Couvade", inclusive, tem uma longa história cultural. Ele foi criado pelo antropólogo inglês Edward Burnett Tylor em 1865 para se referir a uma série de rituais, que se repetem em várias sociedades pré-industriais ao redor do mundo, em que o homem tem comportamentos típicos (para nós) femininos, como deixar de comer certas comidas, ficar de resguardo, ou até simular as dores do parto.
No sentido moderno, a Síndrome de Couvade gera interesse, pelo menos, desde meados do século 20. Já em 1965, um artigo no British Journal of Psychiatry definia a condição como "um estado de sintomas físicos de origem psicogênica que ocorre em parceiros de mulheres grávidas".
Mesmo assim, não existem muitas pesquisas acadêmicas sobre o tema. "Infelizmente, a gente tem poucas investigações ainda dos sintomas e emoções do homem durante o período de transição para a parentalidade", relata Rafaela.
Os sintomas que o homem sente na gravidez são os mesmos que a mulher pode sentir. Segundo a psicóloga perinatal, o homem pode ter enjoo, desejo, azia, ganho de peso e também apresentar pressão alta.
Uma pesquisa publicada na National Library of Medicine constatou que os homens que convivem com a parceira durante a gestação podem até ter alterações nos níveis de hormônios como testosterona e cortisol. "Alguns podem até produzir um pouco mais de prolactina [substância ligada ao aleitamento materno], mas não é muito comum", explica a psicóloga.
Mais comum – e, de certa forma, que requer mais atenção – são as alterações emocionais experimentadas pelos homens, que podem levar a quadros de ansiedade, estresse ou depressão.
"Já existem dados de que 10% dos homens apresentam sintomas de depressão no período perinatal", diz a especialista. Tais condições, ao contrário de sintomas como enjoos matinais, precisam de um olhar mais cuidadoso por parte dos homens.
Segundo pesquisas do Health Care for Women International sobre o tema, a Síndrome de Couvade seria mais comum no primeiro e no terceiro trimestre, seguindo os momentos mais sensíveis da gestação da mulher, que costuma ter "alívio" no segundo trimestre.
Contudo, a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo destaca que a condição pode aparecer tanto no começo da gestação quanto no puerpério. "A gente vai encontrar a síndrome de Couvade desde da hora que descobre a gestação até aproximadamente um ano depois do parto", explica.
Assim como a Síndrome de Couvade não é exatamente uma síndrome, não existe também um consenso sobre as suas causas. Para a psicóloga, a principal causa seria o homem estar mais ligado afetivamente ao bebê e “o desejo de querer participar da gestação", explica Rafaela Schiavo.
Isso teria relação também com mudanças culturais recentes, que deram mais espaço para o homem sentir a paternidade, o que pode ser chamado de paternidade ativa.
"Antes era tudo em cima da mulher, e isso mudou, e quando isso se transforma, muda a ordem do psíquico também", explica a psicóloga. O homem, hoje, teria mais espaço para pensar "a gravidez ocorre no corpo da minha mulher, mas eu também sinto aqui, eu também experiencio essa gestação com sintomas, com desejo, com medo".
O período antes de ter um filho também, sabe-se, é de muita profundidade emocional. "Quando a gente entra nesse mundo da transição para a parentalidade, seja paternidade ou maternidade, muda muita coisa", afirma Schiavo. "Vem muita coisa à tona, muita lembrança, e essas lembranças fortes e emocionais, sejam elas positivas ou negativas, se refletem também em vários tipos de sintomas durante o período perinatal."
Para Rafaela, homens que têm dificuldades com o próprio pai ou com a mãe, ou questões de muito apego com um deles, podem ter mais chance de se sentirem sensíveis à gestação de suas parceiras. Mas ela destaca também que não existem condições de risco para a Síndrome de Couvade porque ela mesma não é uma condição de risco.
Pensando nos problemas de saúde mental, porém, a coisa muda um pouco. "Na saúde mental, sim, a gente vai ter fator de risco", ela diz, como o uso de álcool e outras drogas, ou um aborto anterior que a parceira tenha pessado. "Se o homem teve depressão alguma vez na vida, aumenta a chance de apresentar depressão no período perinatal, o mesmo com transtorno de ansiedade", explica a psicóloga.
Quando o homem apenas experimenta alguns sintomas típicos da gravidez, a Síndrome de Couvade não requer nenhum tipo de tratamento. "Se ele (o pai) está sentindo enjoo, vertigem, não precisa fazer psicoterapia ou tomar medicamento, da mesma forma que a mulher não procuraria uma psicóloga por causa disso", afirma Schiavo.
Mas alguns outros sintomas precisam de acompanhamento – um pré-natal do homem deveria ser uma prática mais comum. “O correto é todos os testes que você pede para a mulher, pedir para o homem também”, sugere a psicóloga. “Para os sintomas orgânicos, como ganho de peso, aumento abdominal, aumento de pressão, você precisa de um controle médico, são coisas que precisam ser cuidadas no homem também”.
Schiavo também destaca a existência do pré-natal psicológico, que vem ganhando força entre as mulheres, mas ainda é pouco explorado pelos homens. "O pré-natal psicológico não é algo que a gente faça só quando a pessoa está com sintomas de ansiedade, estresse ou depressão, é algo para prevenir", ela explica.
"É uma técnica que o psicólogo usa para poder avaliar como está a saúde mental e poder prevenir, e, caso perceba que há algum risco para adoecimento, fazer um trabalho de intervenção”, explica Schiavo.
Algum nível de ansiedade durante a gravidez é normal, claro, com ou sem Síndrome de Couvade, e uma boa forma de lidar com ela é o casal trabalhar junto para criar o ambiente mais favorável possível, vivenciando a gravidez em família e cuidando da saúde de ambos (e do bebê!) do melhor jeito possível, com uma alimentação saudável, práticas esportivas e momentos de lazer.
Lembrando que a jornada para a parentalidade é uma transformação muito intensa e particular e que cada pessoa vai descobrir a melhor forma de viver essa etapa a partir da própria experiência.
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