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Mais Abraços // Quarta-feira 7 Agosto, 2024 // #ter ou não ter filhos, #ser mãe, #ser pai
É comum observar no Brasil homens e mulheres com mais de 60 anos que constituíram famílias numerosas, uns até com mais de cinco filhos. Mas o que faz, hoje, as gerações seguintes terem dúvida sobre ter ou não ter filhos? O que mudou no mundo e quais são os questionamentos acerca do tema?
As observações mais óbvias são de que, com as transformações do mundo, seja a independência feminina ou as dificuldades financeiras, muitos optam por ter filhos com uma idade mais avançada ou apenas não ter filhos.
Na verdade, a discussão é mais ampla e envolve aspectos como medo, priorização, estilo de vida e, claro, razões individuais. E como saber se quero ter filhos? É o que vamos discutir a seguir com a ajuda de Marina Bianchi Jacquet, psicóloga e neuropsicóloga, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).
Afinal, como decidir se quero ter filhos e quais são os motivos que me fazem questionar isso? Antes de mais nada, vale lembrar que, de fato, é uma grande decisão optar por ter ou não ter filhos.
E essa reflexão deve ser feita a partir dos valores de cada pessoa e, principalmente, se há o desejo genuíno de colocar uma criança no mundo, sem interferência das pressões externas, seja da família ou de pessoas mais próximas, que já têm uma opinião formada sobre a questão.
“As pessoas têm inúmeros motivos para pensar na possibilidade de ser mãe ou ser pai e alguns, simplesmente, não desejam viver essa experiência”, ressalta Marina.
Ela complementa: “A decisão sobre ter ou não filhos não é uma novidade, no entanto, cada vez mais, as gerações têm a possibilidade de compartilhar seus pensamentos e experiências nas mídias sociais, o que faz gerar ainda mais dúvida e discussão sobre algo tão definitivo que é criar uma criança”.
Cada um pode ter seu motivo para a escolha ou não de ter um filho, mas alguns motivos aparecem com maior frequência no consultório da psicóloga.
Para a profissional, os principais medos de quem alimenta a dúvida são:
Há pessoas que não se sentem capazes de criar/educar uma criança;
O medo do futuro ou de cometer erros também é muito presente;
A priorização de carreiras, de estilo de vida ou de relacionamentos também podem ser um forte quesito para a escolha.
Outro ponto são as questões financeiras, ou seja, os cuidados mais básicos, como alimentar, educar e cuidar da saúde de uma criança vai gerar gastos. Por fim, o não desejo, de não desejar ou não estar disponível para a mudança significativa que terá em sua vida para sempre.
Um estudo divulgado pela Women's Studies International Forum, revista acadêmica inglesa, envolvendo 21 mulheres suecas sem filhos, chegou à conclusão de que a liberdade é um motivo frequentemente mencionado para permanecerem sem filhos.
A análise identificou dois discursos diferentes em relação à ideia de liberdade para elas não quererem ter filhos. O primeiro inclui experiências positivas em relação às mulheres sem filhos desfrutarem de mais tempo livre no dia a dia. Já o segundo discurso traz opiniões negativas sobre crianças como algo trabalhoso e exaustivo.
Por outro lado, outras mulheres e homens desejam ter filhos e, por alimentar essa ideia como um objetivo de vida, têm a possibilidade de se preparar tanto financeiramente, como psicologicamente para enfrentar os desafios de criar uma criança nos dias de hoje.
Essa certeza de querer ter filhos pode acontecer por muitos fatores. Veja abaixo alguns deles apontados pela especialista:
Pelo simples desejo de ter filhos;
Ter suporte da família e dos amigos;
Ter um parceiro realmente envolvido na relação e que está alinhado com a decisão;
No caso de pais e mães solo, ter uma boa rede de apoio;
Ter estabilidade financeira;
O desejo de descobrir outra forma de amor;
Por ter prazer na ideia de gerar uma vida;
Para aprender a conviver com as diferenças do outro;
Porque acredita que filhos trazem felicidade para a família;
Para dar continuidade na família;
Para se sentir uma pessoa melhor.
Bem como as pessoas solteiras ou sem um relacionamento estável, os casados também podem ter dúvidas sobre ter filhos. Quem nunca ouviu perguntas de outros sobre o assunto? Pois é!
“É muito comum, quando se namora, que existam perguntam de quando irão se casar, quando já se casaram, perguntam quando vem o primeiro filho e, muitas vezes, quando o filho nasce, questionam quando chega o segundo filho”, lembra a psicóloga.
A pressão da sociedade está em diversas fases da vida, não apenas em ser mãe ou ser pai. A parte mais importante para quem está vivendo essa pressão social é saber e estar alinhado ao que realmente deseja, ou seja, fazer reflexões individuais com frequência”, aconselha.
A sugestão da profissional é que haja conversas entre o casal para que, caso aconteça essa pressão de terceiros, cada um saiba se posicionar e não deixar que o desejo do outro interfira em suas vontades.
Dentro de um relacionamento saudável, cada parte consegue trazer suas expectativas para que, juntos, cheguem a um denominador comum. O mais importante é entendermos o que pode ser negociável e o que não podemos negociar em relação a planos futuros, expectativas e rotina, tanto no relacionamento, como de forma individual.
Se você pensa em ter um filho sem estar em um relacionamento, é igualmente importante refletir sobre a questão. Hoje, muitas pessoas criam seus filhos independentemente de ter um parceiro.
Porém, deve-se pensar se existe uma rede de apoio, caso necessário, que pode ser familiar, composta por amigos ou até vizinhos. O mais importante é que sejam pessoas de confiança para oferecerem suporte emocional e prático.
Por outro lado, além da rede de apoio, muitas pessoas solteiras que querem ter filhos estão buscando o parceiro ideal, o momento ideal ou a idade ideal. Mas, mais uma vez, o “ideal” é muito subjetivo de indivíduo para indivíduo.
O que pode ser modelo para uma pessoa, nem sempre será para outra, dessa forma, é extremamente importante cada um entender o que busca em suas relações e objetivos de vida.
“Para alguns a parceria é algo indispensável em um relacionamento, para outros, a admiração é inevitável, a delicadeza precisa fazer parte da relação, enquanto outros buscam empatia e assertividade. Mas, no fim, acredito que todos buscam uma relação saudável e com amor”, aponta Marina.
Muitas vezes, para as mulheres, a reflexão sobre ter ou não ter filhos vem acompanhada de sentimentos negativos, como a pressão social, que pode desencadear insegurança, estresse e ansiedade, quando na verdade essa precisa ser uma decisão genuína.
“Acredito que, para as mulheres, a pressão de ser mãe exista por conta de uma construção cultural que coloca a criação de um filho como responsabilidade integral da mulher. Mas essa expectativa da sociedade já está sendo desconstruída, porque mãe e pai representam um papel de suma importância na formação da criança”, observa a psicóloga.
Há alguns aspectos que devem ser levados em consideração quando se chega ao momento da vida em que aparece a dúvida: ter ou não ter filhos?
Marina lembra que todos nós precisamos nos dividir em diversas áreas de nossas vidas, seja pessoal, familiar, afetiva, profissional, social, entre outras. Essas áreas demandam, muitas vezes, entrega e energia para mantê-las da forma como desejamos. Algumas áreas irão se destacar conforme cada período que estamos vivendo.
“Uma das maiores dificuldades que ouço no consultório é conseguir conciliar os desafios de uma ou mais áreas ao mesmo tempo, ou seja, equilibrar os diversos “pratinhos” que temos em nossa vida sem que tenha um excesso de autocobrança”, conta ela.
O conselho da profissional é que você faça uma lista de prós e contras que sempre poderá ser utilizada quando for necessário tomar uma decisão. “Sugiro que essa lista seja feita com muita calma e não precisa ser finalizada no mesmo dia que começou. Nela, coloque todos os pontos importantes, estando ou não em uma relação”.
Para os casais, a lista de prós e contras pode ser feita tanto em conjunto ou cada um faz a sua lista e, depois, compartilha com o parceiro.
Resumindo, observe em que fase da vida você está e como enxerga sua trajetória nos próximos anos. Esse pensamento pode ajudar a guiar a sua decisão. E, claro, se achar necessário, consulte um profissional especializado para expor seus anseios e incertezas.
Em estudo recente, realizado pela University College London, na Inglaterra, foi revelado que mais de um terço dos adolescentes na Inglaterra não querem ter filhos no futuro por medo ou incerteza com acontecimentos turbulentos no mundo e as alterações climáticas.
Inclusive, há um movimento chamado "childfree" (livre de crianças) que vem crescendo entre os casais jovens, principalmente nos Estados Unidos, que optaram por não ter filhos e, além disso, defendem não deixar que crianças frequentem espaços públicos, como restaurantes, hotéis e casamentos.
Esses são apenas grupos de pessoas que têm uma opinião formada sobre o assunto, mas a verdade é que cada indivíduo deve basear sua escolha na decisão individual , sem ideias radicais. Por isso, se faz tão importante ter consciência sobre a própria condição e desejo de se tornar pai ou mãe, independente da idade.
E quando há certeza de que se quer ter filhos, mas esse momento de gestar uma vida, além de um sonho, passa a ser um desafio? Muitas mulheres, por questões biológicas, precisam recorrer à fertilização in vitro e às novas tecnologias para realizar a tão desejada gravidez.
Para pais e mães que sonham em ter um filho, já existem métodos de reprodução assistida que estão cada dia mais modernos e eficientes. E, por consequência, a aderência a eles também.
No segundo episódio da primeira temporada do podcast Huggies Brasil, Dani Arrais conversa com Lili Dantas e Paty Luna, mães do João e do Joaquim e criadoras do perfil “Duas Mães de Dois”, que falam sobre o processo de reprodução assistida para um casal lésbico desde os primeiros passos até o momento do resultado positivo de gravidez.
De todo modo, antes de tomar a decisão definitiva de ter ou não ter filhos, é preciso estar preparado para isso, pois gerar e/ou criar uma criança é um momento único na vida e que deve ser aproveitado da maneira mais bonita, com muito amor, carinho e dedicação.
“Muitas vezes, a não escolha também é uma escolha. A decisão de ter ou não um filho precisa ser analisada para tentar evitar, ao máximo, o arrependimento. Caso o arrependimento aconteça, sugiro acompanhamento psicológico, com profissional capacitado para trabalhar os pontos necessários e aliviar esse sofrimento”, finaliza a especialista.
Você pensa em adotar uma criança? Saiba quais são os requisitos exigidos para quem pretende adotar uma criança no Brasil.
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